terça-feira, 8 de julho de 2008

[Cinque]



Acabei por adormecer na tua cama, mais perto de ti. Acordo com um grito mudo. Terá sido só mais um sonho? Soergo-me num cotovelo e situo-me. O luar penetra pela janela aberta e ilumina o espaço, emprestando-lhe uma aura algo fantasmagórica.
Não foi só mais um sonho. Foi real.
Levanto-me agoniado e corro para a casa de banho. Molho a cara com água fria e estaco perante o espelho. O meu olhar cruza-se comigo e repugna-me. Como consegues encarar-te, ouço-o dizer. Olho para trás e verifico que estou sozinho. Aliás, como sempre tenho estado, desde que partiste. Desde que te fiz partir.
Fixo o meu olhar no espelho e novamente o ouço a perguntar como me posso permitir permanecer, como me posso permitir ficar. A imagem reflectida no espelho aponta para mim e sussurra Foste tu.
Cala-te.
Escorrego para o chão e ali fico, joelhos junto ao peito, embalando-me, murmurando perdões. Perdoa-me.
Assassino. CALA-TE!
Num rompante levanto-me e encaro-me. Fecho o punho e num único golpe parto o espelho. Os vidros estilhaçam-se com o impacto. O sangue desponta e corre livremente. Sorrio. Mereço a dor, quero a dor, preciso da dor.
Cem pares de olhos fitam-me através do espelho partido. Todos com a mesma expressão silenciosa: Culpado.

Sem me importar com a mão ferida, volto ao teu quarto e deito-me na tua cama. Mais perto de ti. Com os joelhos junto ao peito, murmuro canções de embalar até que o cansaço me deixa render a mais um sono sem sonhos.

2 comentários:

Anónimo disse...

Palminhas!! Foi um óptimo regresso! :)

Quero mais!!!

Ah e a foto que antecede o texto está muito adequada também ;)

Vidade disse...

Estou muito orgulhosa!As lágrimas teimam e caem. Mas, ser mãe è mesmo assim...