terça-feira, 10 de abril de 2007

(Re)Viver-Te


Dobram os sinos.
Trocam o mundo e os passos. Trocam as voltas e os sentidos.

Os sinos repicam. Mais uma hora, menos uma hora. Mais um dia, menos um dia, que diferença faz nas reviravoltas do tempo que nos foi destinado? Passam as horas devagar, devagar demais. O tempo vai pedindo licença, já não passa sem que dê por isso.
Concedi-te um tempo maior do que o que tinha. Maior que o meu próprio tempo. E agora quedo-me na esperança do que nunca tivemos, desvaneço-me em recordações de tudo que consegui reter. Ainda choram essas memórias, expiando um desejo de retorno. Já que o meu tempo quase pára, dobrando as esquinas da saudade, imprimindo a tua imagem nos meus olhos, martelando-a na minha mente, entendo que me é permitido voltar.
Voltarei quando os sinos, pontualmente, tocarem as suas badaladas.
Apuro o ouvido. Devem estar quase. Afinal, o tempo tarda, mas soma e segue. Impreterivelmente.

A enfermeira abre a porta e gesticula, dizendo que está na hora dos medicamentos. Como não lhe respondo, toca-me no ombro. Lentamente, viro a cabeça e encaro-a. Abro os olhos e vejo o quarto, branco por todo, com uma cama ao centro e um candeeiro no tecto. A janela por onde olhava a praça e ouvia os sinos não passa de uma parede branca. Abano a cabeça. Não compreendo. Assim não vou ouvir o sino, digo-lhe. Assim não saberei quando voltar… Repito-lhe o que vi, o que senti, o que me foi dito, para que ela compreenda que me foi permitido volver. Encolhe os ombros e volta a dizer-me que está na hora da medicação. Não quero. Quero ficar acordado à espera dos sinos. Da libertação após as suas badaladas. Surge outro enfermeiro e explico-lhe o que me foi concedido: Voltar. Esboça um esgar e agarra uma seringa dentro do bolso da bata. Sinto uma picada. Arregalo os olhos e tento falar. Da minha boca não sai qualquer som. Agarro uma folha de papel e tento escrever. Da minha mão não se desenha qualquer letra ou qualquer símbolo. Gesticulam novamente, sem soltarem qualquer som, e percebo perfeitamente o que me querem dizer.
Quase a fechar os olhos, volto a ver a janela. Amanhã ouvirei os teus sinos, meu amor. Amanhã os sinos dobram por nós e é-me novamente concedido voltar.

2 comentários:

Anónimo disse...

Lembras te de cada cena pekenina. Mt bem. Beijinhos

AnaLua disse...

um regresso em grande minha miguinha super vitaminada! ja tinha saudades..Bjinhos minha linda