terça-feira, 17 de abril de 2007

"Quem me leva os meus fantasmas?"


Todos nós temos fantasmas.


Sempre presentes em todos os momentos da nossa vida: perturbam-nos o sono, invadem-nos os sonhos, derrubam-nos durante o dia, apodrecem-nos de noite, preenchem-nos a memória, enriquecem-se com o nosso desalento, alimentam-se do desespero que nos faz temer os dias e encurtar as noites.

Esses fantasmas fazem-nos remexer bem fundo, revirar todos os momentos que queríamos ter dito sim e dissemos não, analisar todos os momentos em que nos seguramos ao que tínhamos e não procuramos o desconhecido, reviver todas as escolhas, sugando toda essa nossa força para prevalecerem.


Acima de cada um de nós.

Antes de os afugentarmos, temos que nos confrontar com eles: com a sua frieza, com o seu permanente ardil para nos fazer retroceder, com a agonia da incerteza, as reviravoltas bem dentro do nosso âmago, as mutações íntimas de todos os nossos sentidos, o desassossego no sono, a inquietude no caminho, a desconcertante jornada diária para respirarmos.
Não passam de sombras, que desaparecem com o pôr-do-sol. Ansiamos que o dia não nasça para que não voltem a surgir, serpenteando nas paredes, quebrando as nossas esquinas, coladas às nossas costas, sibilando-nos o passado, adiantando-nos desmesurada e descuidadamente os passos. Corremos, tropeçamos, caímos e aí ficamos.
As amarras que nos prendiam ao destino calculado, delineadas cautelosamente a lápis, soltam-se. Neste momento só podemos saber que a meta está sinalizada, o fim do caminho está traçado. Perguntamo-nos para quê carregar este peso amorfo.

No fundo de nós temos que reconhecer que todos precisamos destes fantasmas para saber como prosseguir, como calcorrear a estrada que a vida nos (re)abre. Erramos, aprendemos, reflectimos, continuamos. Teremos necessariamente sempre que continuar.



Desembainhem-se as espadas. Apenas nós os podemos fazer desvanecer.

5 comentários:

AnaLua disse...

Ora bem, fugir deles nao leva alado nenhum, apenas a uma espiral sem fim...
e os fantasmas, pelos menso os meus, combato-os muitas vezes com a força e o apoio dos verdadeiros AMIGOS...Como tu:p
Bjinhos

Anónimo disse...

Os fantasmas servem para nos fazer lembrar o passado sem ter medo de enfrentar o futuro.
Funcionam como aprendizagem e o teu texto mostra isso...Reconhecê-los, combatê-los e ultrapassá-los!
Nós sabemos isso :)

J disse...

Bem! Cheguei a ter medo, a certa altura do texto mas, para mim, é o melhor que a Sra. Vitamina espremeu até hoje neste citrino espaço. Faça o favor de continuar.

Vitamina CeCe disse...

Muito obrigada pelo elogio Sr. Valter Rego, se é que era isso que pretendia... É que nunca se sabe...

C disse...

concordo com o elogio reguiano.