quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

III

Olho para o relógio: 2:53. As luzes da rua penetram pela persiana meia aberta. É incrível como ainda tenho medo do escuro. Irremediavelmente penso em ti. Olho para o teu lado da cama e permanece vazio. Mais uma vez tu não estás. Como poderias estar? Soergo-me e encosto-me nas almofadas, vislumbrando o quarto ainda cheio de ti. Roupa na cadeira, maquilhagem na cómoda, fios e pulseiras espalhados, o teu livro ainda na mesinha de cabeceira. Como se voltasses ao fim do dia, com esse sorriso cansado, o saco de compras de última hora para o jantar, os livros a escaparem-te das mãos… Levanto-me e abro a gaveta da cómoda. Todas as noites tenho que voltar a ver-te, como se não bastasse ver-te no banho, nas gravatas que me escolhias, no jornal da manhã, no trânsito em hora de ponta, nas pausas para fumar um cigarro, no regresso a casa agora vazia sem ti.
3:27. A tua irmã veio cá ontem. Queria saber o que pretendo fazer com as tuas coisas. Olhei para ela sem a ver. Se te tiro assim de mim, como sei que consigo voltar a ti? Mário, já passaram quase 3 anos. Que sejam 3 ou 30, não me importa. O tempo pode não deixar de passar, mas deixou de pesar. 4:11. 4:15. 4:19. Fecho os olhos e sinto o teu perfume ainda no ar, ouço o teu riso e saboreio os teus olhos. Afinal sempre vieste descobrir-me de madrugada. Vem, eu conto-te a nossa história.

3 comentários:

C disse...

Muito bem, laranjinha! como vês a invisível presença feminina ataca todos os escritores lol!

J disse...

Pois, parece que sim!

Parabéns pela laranjada, Sra. Vitamina!

Anónimo disse...

Minha linda: o texto está simplesmente encantador...e tão verdadeiro para todos os que o lêem que até parece que nos tiras as palavras da boca.
Parabéns!