quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

A Maré (Re)Volta


Ao longe o mar desafia-me. Aqui no escuro parece tão calmo, mas sei que algures está a preparar um ataque semelhante ao que te levou. Percorro o passadiço de madeira e enterro os pés na areia fria, sentindo cada grão entre os dedos dos pés.
Vou até lá, as ondas fazem com que molhe as calças não puxadas suficientemente para cima. Assim, ela vai dar conta. Que se lixe. Acaso já não posso amansar a alma do gigante que te arrebatou? Molho as mãos na água salgada e respiro fundo tentando aspirar partículas de ti, vindas nos salpicos das ondas.
Baixo-me e apanho uma concha. Sempre gostaste de recolher conchas, búzios e pedrinhas quando passeávamos à beira-mar ao fim do dia, quando o sol nos aconchegava as costas e te doirava a pele queimada. Esta está partida, já percorreu a sua distância, contando a sua história, entre praias, pescadores e varinas, como dizias. Também tu andas a contar a tua história nesse mar sem fim e sem retorno.
Sinto uma mão no ombro. Acordo. Afinal estive sempre parada no passadiço de madeira. Já podemos ir querida? Destravo a cadeira e assinto. Mando um beijo ao mar e estranhamente tenho a mão com sabor a sal, sabor a ti quando voltavas da faina e nos reencontrávamos nessa comunhão de membros, corpos e almas. Vamos então, afinal, nem eu nem tu vamos a lado nenhum. Pelo menos não por enquanto.

1 comentário:

Anónimo disse...

Não tarda nada escreves um livro. eheheh. Beijinho pekenina. Mt bem